Até logo, Barradão!
O Vitória anunciou oficialmente que irá jogar por três anos na Arena Fonte Nova. A notícia foi recebida de diferentes formas pelo torcedor rubro-negro, que terá que acostumar a jogar em uma nova casa, longe do Barradão. Esse texto falará um pouco sobre a história do estádio e quais impactos causados para o clube e para os bairros próximos.
O ano era 1986, o Esporte Clube Vitória já ostentava 87 anos de história e ainda lutava contra as dificuldades para se manter como um clube profissional. A instituição assistia clubes rivais vivendo melhores fases e era constantemente ultrapassada por eles, nada melhor do que novos ares. Diretamente do bairro de Canabrava, foi inaugurado o Estádio Manoel Barradas, popularmente conhecido como Barradão.
O complexo, que tem 32 anos de história como um patrimônio desportivo, passou a servir não só ao Vitória e aos seus torcedores, mas a todo o bairro de Canabrava e às regiões próximas. O Barradão hoje é um patrimônio cultural do bairro e da cidade de Salvador.
A construção do estádio foi um divisor de águas da história do clube. Juntamente com o Barradão, nascia um Esporte Clube Vitória muito mais forte. A consequência disso trouxe para o bairro de Canabrava linhas de ônibus, asfaltamento, construções de casas, apartamentos, públicos grandes em dias de jogos e bares para a região.
As conquistas refletiam em novos torcedores e moradores para o bairro. Aos poucos, o Barradão ganhava unidade com Canabrava e a gratidão dos moradores. “Essas pistas que tem aqui hoje, eram tudo sítio e criatório de boi . Aqui era uma invasão.”, afirmou Edvaldo, morador e torcedor do Esporte Clube Vitória.
Aos 55 anos, um dos líderes da comunidade vivenciou a mudança do bairro de forma detalhada. Edvaldo viu o clube empregar e abrigar os moradores do local. “Nasci e me criei aqui, todos os moradores eram conhecidos”, disse. Como uma viagem no tempo, o torcedor não esquece os melhores momentos da história do clube e se emociona ao relatar as transformações trazidas pelo Vitória.
“O Vitória fez a comunidade crescer. Deu movimento, trouxe pessoas para morar próximo ao estádio. Tudo que tem hoje, nunca teve. Aqui tinha pouco morador. Mas já tivemos em situações melhores, com a situação ruim do Vitória, o movimento do bairro enfraquece”, falou Edvaldo.
Mais do que uma instituição voltada ao futebol, o Vitória tem uma função muito maior quando a bola não está rolando. A organização sem fins lucrativos representa uma mudança de paradigmas e escolheu sair do alto da sociedade para dar esperança e alento aos habitantes do local.
O pesquisador Paulo Fernandes, em entrevista ao site Uol, classificou a mudança como um “case” mundial. "Dificilmente você vai encontrar uma reinvenção com essa densidade. Porque o Vitória nasce na aristocracia e vai se reinventar no lixo”, contou.
Sendo um bairro de concentração de pessoas com baixa renda, o Esporte Clube Vitória contribui para a melhoria da qualidade de vida dos moradores e atua no resgate infanto-juvenil das ruas e do mundo das drogas, através de um projeto chamado Vitória Cidadania, que beneficia cerca de 400 crianças e apresenta o esporte como forma de inclusão através dos exercícios realizados dentro do complexo.
Pessoas que trabalhavam no lixão, através de coleta e reciclagem, depois da construção do estádio, ganharam novos empregos. Hoje em dia, a área é lotada de vendedores de churrasquinhos, cervejas, pequenos bares e manobristas, que viram no clube uma reinvenção, a nova forma de viver.
A lua de mel vivida entre clube, torcida, estádio e bairro perdurou por mais de 32 anos. Antes do Barradão, o Vitória possuía um total de 12 títulos profissionais, hoje, o estádio já foi palco de 17 conquistas do clube rubro-negro. Com caráter vencedor, o estádio ganhou a alcunha de ‘mágico’.
O Esporte Clube Vitória realizou mudanças virtuosas no bairro, Canabrava viveu melhorias desde a construção do estádio, porém, existem muitas coisas que ainda necessitam de ajustes. A desigual cidade de Salvador retrata com precisão os contrastes entre lugares próximos ao bairro, entretanto, por mais que pareça, o clube não pode ser responsabilizado sozinho pela manutenção do crescimento de um local.
O Vitória enxergou a falta de estrutura mantida pela prefeitura de Salvador e o descaso dos diversos órgãos responsáveis e agiu por conta própria. A vida de cerca de oito mil pessoas foi atingida pelo clube, seja quando ele esteve bem ou quando esteve mal.
Até logo, Barradão!